Tivemos posicionamentos diferentes, mas nada justifica a violência

O bolsonarismo fascista e racista sentiu-se à vontade para destilar seu ódio e desejo de eliminar o diferente, mas também vieram cobranças mais doloridas. Uns me querem morta por ter estado no ato e achar que entrei na igreja. Outros me condenam por não ter entrado na igreja.

No ultimo sábado, dia 5 de fevereiro, fui ao ato convocado no Largo da Ordem em protesto ao assassinato brutal do imigrante negro, Moïse Kabamgabe. Não fui convidada para a organização ato, mas estive como militante antirracista que sou. Não participei da decisão de entrar na igreja do Rosário e não entrei na igreja. Me preocupei com todas as pessoas que estavam ali, temia algo como uma violência policial, comum no Largo da Ordem.

Desde então, tenho sofrido inúmeros ataques por todos os lados e até de lugares inesperados. O bolsonarismo fascista e racista sentiu-se à vontade para destilar seu ódio e o desejo de eliminar o diferente, mas também vieram cobranças mais doloridas. Uns me querem morta por ter estado no ato e achar que entrei na igreja. Outros me condenam por não ter entrado na igreja.

Outros cobram de mim a defesa do meu companheiro de bancada do PT, querem que eu impeça a violência que ele também está sofrendo. Uns nos comparam, outros julgam qual de nós representa mais a luta negra e, no meio disso, só vejo racismo e machismo.

Somos diferentes, temos trajetórias de vida diferentes, gêneros diferentes. Sou mulher, ele é homem. O que temos em comum é o racismo que sofremos. Lamento toda distorção e polarização política que tem sido feita sobre o ato. Lamento o desprezo pelo que ali se foi denunciar, a violência racista e xenofóbica, que é uma doença no nosso país.

Não entrei na igreja por consciência que tenho sobre esse lugar muito difícil que ocupo no mundo, que é o de mulher negra. Errando ou acertando, quase nunca me é dada a razão. De mim sempre é cobrado o dobro. Compreensão e reconhecimento são coisas que raramente recebi da vida, e só vieram como resultado de exaustivo trabalho.

Sempre fui cobrada do cuidado dos outros, assim como a maior parte das mulheres. O tempo todo me exigem explicações, por tudo e por nada. Não esqueço que após eleita, terceira mais votada, tive que passar um ano explicando porque fui eleita, e não me é dado o direito de errar, e isso fica nítido até mesmo nessa situação em que eu não cometi nenhum erro.

Não julgo a indignação de quem entrou na igreja, é legítima diante dessa realidade tão cruel imposta à nós negras e negros, mas sou filha de pais pretos retintos, irmã de homens pretos retintos, tia de criança preta. Uma ação impensada, tomada no “calor da hora” pode significar a nossa morte, o risco à nossa integridade física e tantas outras violências, fruto desta sociedade profundamente racista e machista em que vivemos.

Nós, negras e negros, somos seres humanos. Afirmo isso para lembrar que, portanto, somos pessoas diferentes, com diferentes posicionamentos e formas de agir no mundo, ainda que o racismo force para que nos vejam todos uma coisa só, estereotipados.

Sobre o ato, houve posicionamentos diferentes, mas o que fica é toda essa violência, de quase não ter para onde correr. De fato, a proporção de tudo que ocorreu no ato exacerbou e está sendo exagerada, o que não mudou é o racismo e o machismo por todos os lados!

Continuo na luta com todas as proposições e projetos que acredito terem potencial para mudar essa realidade, denunciando toda essa estrutura racista, machista e lgbtifóbica com as ferramentas que tenho.

Importante dizer que o Partido dos Trabalhadores já está providenciando toda defesa jurídica contra ameaças e excessos antidemocráticos e persecutórios à bancada do PT na Câmara Municipal de Curitiba.

Carol Dartora
Vereadora de Curitiba