POR UM PT FORTE E SEM MEDO DE SER FELIZ
Neste domingo (17/03) foi divulgada, pelo Instituto Radar, a pesquisa eleitoral que aponta possibilidades para o pleito de outubro à Prefeitura de Curitiba. As pesquisas eleitorais retratam a realidade do momento em que são realizadas, considerando os fatos, acontecimentos e hipóteses de tais datas, dispondo de métodos e técnicas que garantem a sua confiabilidade a partir da amostra coletada, e são importantes instrumentos de planejamento. No entanto, o manejo que se dá ao que se obtém das pesquisas também podem influenciar resultados e a opinião do eleitorado, como também, a partir de análises enviesadas, utilizadas para fins distintos dos considerados adequados pela Ciência Política. A pesquisa aqui discutida apresenta uma lista com dez pré-candidatos e candidatas que, de acordo com seus respectivos percentuais de intenções de votos, podem ser ordenados em dois grandes grupos de considerável empate técnico, seguindo a margem de erro de 3,5%. No primeiro grupo estão Eduardo Pimentel (PSD) com 15,8%; seguido por Beto Richa (PSDB) com 13,1%; Luciano Ducci (PSB) com 12,3% (onde esses três nomes estão empatados no limite da margem de erro); Deltan Dallagnol (NOVO) com 11,5%; e Ney Leprevost (UNIÃO) com 10,9%. O segundo grupo é formado por Paulo Martins (PL) com 4,7%; seguido por um empate na margem erro pelos nomes de Maria Victoria (PP) com 3,3%; Luizão Goulart (SOLIDARIEDADE) com 3,2%, Carol Dartora (PT) com 2,6% e Goura (PDT) com 2,5%.
A análise mais simples dos números dessa pesquisa evidencia grande potencial de crescimento, seja esse eleitoral ou político, para qualquer um dos nomes, por enquanto, mas não exclusivamente, dentro de seus respectivos grupos (grupo 1 e grupo 2). Por tratar-se de uma pesquisa que antecede muito o pleito, mesmo que em ano eleitoral, é preciso considerá-la mais como um “termômetro” do que como uma certeza, pois é comum que nomes que aparecem na listagem ou na pergunta de resposta espontânea não cheguem a disputar a eleição e, com isso, o resultado de outubro pode vir a ser surpreendente. Outro fator que merece atenção, devido ao seu impacto eleitoral, é acompanhar o desenvolvimento da totalização da porcentagem de não votariam em nenhum, branco, nulo, não sabem ou não opinaram que, hoje, está em 20,1%. Destaca-se como de todos os nomes listados, apenas dois são de pré-candidatas mulheres, uma à esquerda, com Carol Dartora, também a única pessoa negra presente na lista, e outra mais à direita, com Maria Victoria, ressalva importante visto que, embora ainda insuficiente, o número de mulheres eleitas e a busca pelo voto identitário feminino vem crescendo a cada eleição. Mais um ponto de destaque é como se porta a esquerda nessa pesquisa.
A deputada federal Carol Dartora e o deputado estadual Goura são os listados mais posicionados à esquerda desta pesquisa. Apesar dos números atribuírem uma mesma posição eleitoral para ambos, esses mesmos números apresentam uma interpretação de ganhos políticos diferentes. Isso porque já é a segunda vez em que o deputado Goura se coloca à disposição para disputar a Prefeitura da capital paranaense, onde, em 2020, com mais de 110 mil votos, conquistou o segundo lugar com 13,26% dos votos. Carol Dartora está atuando enquanto parlamentar desde 2021, quando assumiu como a terceira vereadora mais votada, e desde 2023 como deputada federal, onde consagrou-se como a segunda parlamentar mais votada na capital. Foram duas conquistas eleitorais consecutivas, com alta expressão de votos, em estreia de disputa pelos cargos, o que pode ser atribuído a sua popularidade e aceitação junto ao eleitorado. Sendo assim, com ela posicionada acima do Goura na pesquisa, mesmo que em empate técnico, é um saldo político com folga no campo da esquerda. Pode-se somar ao saldo de Dartora também, a disputa interna que vem travando no partido pela decisão e manutenção de visibilidade do seu nome como a pré-candidata do PT, pois, atualmente, o partido está dividido em ter uma candidatura própria ou apoiar Luciano Ducci.
Considerando a influência da conjuntura governista municipal, estadual e federal, como também a polarização entre direita e esquerda nas eleições, o grau de importância dos apoios do Prefeito Rafael Greca, do Governador Ratinho Jr, do Presidente Lula e do ex-Presidente Jair Bolsonaro são questionados para os entrevistados. Sendo assim, importante fazer um recorte que contraponha os nomes que mais representam esses fatores de forma conjunta: Eduardo Pimentel (ala governista municipal e estadual), Carol Dartora e Luciano Ducci (ala governista federal).
SEM MEDO DE SER FELIZ, SEM TEMPO PARA RECUAR
Assim como na eleição municipal passada, existe uma possibilidade de se repetir a polarização entre direita e esquerda, que fora protagonizada por Rafael Greca e Goura. As premissas aumentam quando têm-se uma conjuntura de governo municipal e estadual, à direita, e muito bem avaliado pelo eleitorado, e um governo federal, à esquerda, com boa avaliação, investindo em grandes programas sociais e obras que resultam em capital político. Além do mais, a polarização política, onde, pelo menos a nível federal, o PT é sempre protagonista, é uma realidade latente e preocupante a cada eleição que pode resultar em consequências tanto para o executivo quanto para o legislativo. Sabe-se que neste ano todos os olhos se voltam para os municípios, em especial as capitais, mas o pensamento também se encontra na eleição de dois anos depois. A eleição de 2022, a mais acirrada desde a redemocratização, ainda repercute e coloca governo e oposição em alerta. No que tange à Curitiba, muitos são os nomes colocados à direita do espectro político, mas apenas um possui a melhor estrutura para a disputa que o coloca como um favorito para dispor de uma vaga num possível segundo turno. Já o da esquerda depende do PT. O Partido dos Trabalhadores, tanto na capital quanto no restante do estado, conseguiu melhorar seus resultados proporcionais nas duas últimas eleições. Em Curitiba, ampliou de uma cadeira para três na Câmara de vereadores em 2020, como também elegeu dois dos novos vereadores como deputados em 2022, aumentando a bancada estadual e federal. A capital ainda foi o campo de batalha da Lava Jato e onde o Presidente Lula ficou preso 580 dias, reforçando o marco da cidade para o partido.
Todos esses elementos são lembrados e citados pela militância do PT que é contrária à aliança com Luciano Ducci. As condutas do deputado federal durante o impeachment da ex-Presidente Dilma Rousseff, que na ocasião deu voto favorável juntamente de um discurso compreendido como problemático, ter sido vice-prefeito de Beto Richa e prefeito após sua renúncia, e a ausência ou insuficiência de vínculo do seu nome à campanha presidencial de Lula em 2022 são as principais motivações de não ser interpretado como um pré-candidato à esquerda, mesmo sendo filiado ao PSB e compondo a base do governo federal. Ademais, as mesmas razões colaboram para que sua imagem não seja absorvida pela esquerda como a de Geraldo Alckmin. A principal narrativa construída para o apoio petista a Ducci se dá a governabilidade de Lula no Congresso, com temores de conflitos internos e de um possível impeachment. Entretanto, o PSB possui uma bancada de apenas 14 deputados federais e é recompensado com a Vice-presidência da República e dois ministérios (Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), sendo que também teve Flávio Dino à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ou seja, é um partido que tem mais visibilidade e capital político, integrando a base do governo federal e estando alinhado do que fora dele ou dificultando a governabilidade, porque não pode ser compreendido como um partido grande em números federais e nem um partido municipalista, do nível como o MDB fora um dia. Mais um argumento é de que Ducci seria um voto útil, já que está empatado tecnicamente com Pimentel. Contudo, o segundo turno existe no sistema eleitoral como um modo de “constranger” o eleitorado a escolher entre os dois mais votados. Dessa forma, o primeiro turno abre um leque para o voto de desejo, enquanto o segundo turno é para, se preciso, o verdadeiro voto útil.
A grande questão aqui discutida é se o PT irá saber capitalizar o que a polarização pode trazer de benefícios para a legenda. Pois, até o momento, mostra-se fazendo o contrário, onde a falta de consenso interno está prejudicando a visibilidade do partido de tal forma que há informações que os nomes dos pré-candidatos do PT foram retirados da próxima pesquisa eleitoral que está para ser divulgada. E, até então, o único partido de esquerda que está tentando capitalizar essa estratégia para si novamente é o PDT com Goura, sendo que não possui a estrutura partidária e um nome em ascensão, de fator novidade e identitário, como o PT tem com Carol Dartora. Além do mais, um nome “forte e representante” da esquerda potencializa o espaço de crescimento, pois, é significativo lembrar como em 2020 até um mês antes do pleito, Goura aparecia em terceiro lugar nas pesquisas, com média de 5 a 6% de intenções de votos. Por fim, importante concluir que o ganho político e eleitoral de polarização entre direita e esquerda não é apenas entre primeiro e segundo lugar ou entre vaga de segundo turno, mas também e, principalmente, na conquista de assentos legislativos. Todo partido e espectro político precisa mensurar suas possíveis vitórias e perdas antes de entrar numa disputa e “bater o martelo” numa decisão para, sobretudo, não perder o espaço e a oportunidade que tanto demorou para conquistar.