Com “festival de violência política”, Câmara de Curitiba rejeita homenagem para Marielle Franco

Proposta de dar nome de Marielle Franco para um Centro Municipal de Educação Infantil não foi acatada pelo plenário no dia em que assassinato dela completou quatro anos

“Foi um festival de violência”. Assim a vereadora Carol Dartora (PT) definiu a discussão do projeto de lei de sua autoria que denomina de Marielle Franco um dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) ainda não nominado em Curitiba. Com 17 votos contrários, 8 abstenções e 11 favoráveis, a proposta foi rejeitada pelo plenário da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) durante sessão nesta segunda-feira (14).

“A gente pode perceber o quanto ainda tem por avançar na luta, porque foi um festival de violência política, de gênero e de raça, com interrupções, deboche, descaso, demonstrações de desprezo”, avaliou Carol, fazendo referência ao comportamento de vereadores durante a discussão do projeto.

Para Carol, a quantidade de vereadores que não se posicionaram também revela a necessidade de avanço na pauta antirracista. O projeto teria sido aprovado caso os oito vereadores que se abstiveram tivessem votado favorável.

“Numa sociedade racista não basta dizer que não é racista é preciso ser antirracista é preciso se posicionar. Mas esse projeto vai avançar. Isso vai acontecer, pode ser em outro momento. A nossa luta não para. Não seremos silenciadas e essa transformação vai acontecer”, concluiu Carol.

Placar de votação – Reprodução YouTube CMC

Favoráveis

Além de Carol Dartora (PT), Dalton Borba (PDT), Herivelto Oliveira (Cidadania), Hernani (PSB), Marcos Vieira (PDT), Maria Leticia (PV), Nori Seto (PP), Professora Josete (PT), Renato Freitas (PT), Sabino Picolo (DEM) e Tito Zeglin (PDT) votaram favoráveis à homenagem para Marielle.

Contrários

Votaram contra, Beto Moraes (PSD), Denian Couto (PODE), Eder Borges (PSD), Ezequias Barros (PMB), Flávia Francischini (PSL), João da 5 Irmãos (PSL), Jornalista Márcio Barros (PSD), Marcelo Fachinello (PSC), Mauro Bobato (PODE), Mauro Ignácio (DEM), Noemia Rocha (MDB), Oscalino do Povo (PP), Osias Moraes (REP), Pastor Marciano (REP), Sargento Tânia Guerreiro (PSL), Sidnei Toaldo (Patriota) e Zezinho Sabará (DEM).

Abstenção

Já Alexandre Leprevost (Solidariedade), Amália Tortato (Novo), Indiara Barbosa (Novo), Leonidas Dias (SD), Pier Petruzziello (PTB), Professor Euler (PSD), Salles do Fazendinha (DC) e Serginho do Posto (DEM) se abstiveram, ou seja, não votaram nem contra nem favorável.

O vereador Toninho da Farmácia (DEM) estava ausente. Tico Kuzma não votou, conforme prevê o regimento interno do Legislativo, porque estava presidindo a sessão.

Debates

Durante a discussão do projeto, alguns vereadores, apoiadores de pautas bolsonaristas, usaram a palavra para atacar a memória, a vida pessoal e a trajetória política de Marielle Franco, usando inclusive informações sabidamente falsas.

Eder Borges (PSD) liderou os ataques e fez diversas interrupções nas falas das vereadoras Carol Dartora e Maria Letícia (PV). Denian Couto (Pode) criticou a duração do debate e adiantou que votaria contra a homenagem.

Em resposta, Dalton Borba condenou os ataques. “Quero manifestar minha perplexidade pela flagrante desinformação que permeia o discurso de muitos nesta Casa. Eu quero lastimar a falta de fundamentos, transformando o que é para ser um debate político em achismo e ataques ideológicos”, disse.

Professora Josete destacou que o projeto é simbólico e um marco histórico para Curitiba. “Eu entendo que em um país como o nosso, marcado por chagas profundas do racismo, do machismo, da misoginia, da desigualdade, do preconceito, ter um CMEI com o nome da Marielle Franco é muito importante”, disse.

“Nós estamos debatendo aqui um tema importantíssimo que se trata da violência contra a mulher. Estamos avançando, mas hoje o que aconteceu com essa Câmara Municipal?”, lamentou a vereadora Maria Letícia.

Maria Letícia, que também é procuradora da Mulher na CMC, classificou como “covardia” as falas dos opositores ao projeto que usaram de afirmações falsas. Ela ainda destacou que Marielle não foi importante só para Curitiba, mas para o mundo inteiro. “A história dessa mulher tem que ser conhecida pelas crianças, porque a escola é um lugar de diversidade”, disse.

Marielle, presente!

No dia 14 de março de 2018, Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados a tiros quando saíam de uma agenda da parlamentar. O crime teve repercussão internacional, mas ainda hoje, quatro anos depois, permanece sem solução.

Mulher negra, Marielle foi vereadora do Rio de Janeiro (RJ) e se destacou na defesa dos direitos humanos. Ainda jovem, trabalhou em uma creche, como educadora infantil. Em sua primeira disputa eleitoral, em 2016, ela foi a quinta vereadora mais votada, com 46.502 votos. Era socióloga e mestra em Administração Pública.

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